segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Sempre a aprender

Hoje vinha com ganas de escrever. Ansiava pelo fim das obrigações domésticas e familiares para ironizar um bocadinho. Contava falar-vos da Caetana: a criança de 5 anos que perturbou a minha paz e a de todos os que resolveram ir ao supermercado ao final do dia. A Caetana não chorava, a Caetana berrava. Ora queria isto, ora queria aquilo. Não queria nada, creio eu. Mas chorava até mais não, mesmo quando diversos corredores nos afastavam. Eu, que estava kidsfree senti-me incomodada. Porque a mãe da Caetana- imune a birras- fazia calmamente as compras. A Caetana a berrar ou a entoar cantos líricos era exactamente a mesma coisa para aquela mulher robot. Sem expressão alterada, olhos flamejantes ou tiques de nervosismo, a tal super mãe arrastava-se pelos corredores como se de um passeio pelo parque se tratasse. "Caetana, porte-se bem! Caetana, a mãe já disse não. Sim, mais tarde a mãe dá-lhe. Quer estas bolachas, Caetana?" Assim, em qual estado zen. E eu pensei imediatamente que a Caetana estava a precisar de algo mais. E era isto. Era neste momento que vos diria que não era a Caetana que precisava de uma lição. Do alto do meu pedestal, iria sacar dos meus conselhos pedagógicos e iria sugerir a aplicação de castigos físicos, não à filha mas à mãe. Mas antes que eu fizesse brilharete teórico, antes de ter um bocadinho de tempo para escrever,  dei por mim a perceber que, às vezes, não são as mães das Caetanas que precisam de uma boa estalada. Às vezes sou eu. Depois de vários dias de mau comportamento e pura rabugice, insisti numa conversa adiada com a minha filha. E quando ela me disse que gostava que eu tomasse uns comprimidos que me tornassem pequena, pequenina, minúscula, microscópica até ser capaz de entrar na sua cabeça, e depois no crânio, e por fim no cérebro, para que a pudesse finalmente entender... senti um verdadeiro estalo. E bem merecido. Porque nem sempre são os choros que fazem mais barulho. Há silêncios piores.

7 comentários:

  1. Ás vezes as mães das Caetanas foram ensinadas a manter esse tal estado zen, a parecerem impenetráveis perante os mais aberrantes comportamentos, a não reforçar positivamente. Parece irreal, eu própria não contenho alguns olhares e comentários sobre as competências parentais quando assisto a tais cenas, mas é preciso ter cuidado, há muitas Caetanas que cujo comportamento está a ser alvo de intervenção e, frequentemente essa intervenção passa por não o reforçar, no meio da rua, no supermercado, num autocarro, "deixe gritar". A mãe está angustiada por dentro mas a fazer o melhor que pode pela sua Caetana e acredite o melhor é frequentemente "deixar gritar" (com muitas aspas). Ora, pode não ser isso, e aí sou a primeira e ter vontade de distribuir estaladas.

    Margarida

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  2. eu, por norma, prefiro sempre o barulho ao silêncio, sempre.
    Beijinhos

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  3. Ufa! Eu li isso de maneira tão aflita que só respirei no fim lol.

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  4. E eu que me vinha a questionar sobre a "preguiça" cronica e a estarolice da minha mais velha, sempre no mundo da lua sempre a deixar andar... E eu tao terra a terra a querer tudo na hora..
    E a questionar onde sera que ha um ponto de encontro? Deixo andar ou forço a responsabilidade que a idade e os deveres começam a impor? A questionar isto senti a mesma estalada. Faz-nos falta calçar os sapatos delas ainda que por vezes desejemos que elas tambem calcem os nossos.

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  5. Ensinam tanto esses pequenos diabretes. ;)

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