sábado, 12 de outubro de 2013

Há doenças que nós fazem bem


Lembro-me de discar o número em silêncio. De pedir para o chamar com voz de criança e depois soluçar quando o ouvia. 'Estou doente, vem para casa.' E vinha. Ou pelo menos, veio dessa vez. Talvez porque lhe disse que estava aflita. Não era muito diferente das outras vezes em que não ligava. A minha garganta armava contra mim e obrigava-me ao descanso. O médico era ele. Junto dos frascos vinham sempre mimos que não esqueço. Talvez venha daí o meu gosto por sumos espessos e pães de leite com consistência fofa e sabor salgado a fiambre. Parece que estou a ver o embrulho a ser colocado em cima da minha mesa de cabeceira já com cheiro a chá de limão. A minha voz era sempre dramatizada. Sentia-lhe um exagero obrigatório numa casa onde o barulho era mais forte do que o meu som. Recordo com alegria as vezes que adoecia. Eram dias de filho único, afinal.
Hoje acordei com o meu filho queixando-se do frio. A febre vai e vem. Saí de casa e fui-lhe comprar o seu pequeno almoço preferido. Aqueci-lhe um croissant com chocolate e enchi um copo com néctar de pêssego. Só depois de embrulhado numa manta e com lábios açúcarados lhe dei o outro remédio. 'Não, não lhe tirei a temperatura' respondi agora. Fiz o que me faziam. E com o que me curavam.

6 comentários:

  1. E agora que já estou a chorar... desejo as melhoras.
    Beijinho.

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  2. Os melhores remédios que não se esquecem , são esses ..Boas melhoras.

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  3. O Amor é meio caminho andado para a cura. E as memórias doces, também! :)

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  4. Não há remédio melhor.

    Quem não pediu miminhos aos pais nem sabe o que perde. Tenho tantas saudades, as mãos do meu pai, com toda a carga dos abraços e miminhos, habilidosas, dedos compridos e unhas perfeitas, traziam-me as primeiras castanhas, mais tarde já piladas por andarem dentro dos bolsos misturadas com parafusos, moedas, o que calhasse.

    Um abraço com muita ternura ao seu menino e as melhoras.

    Um beijo

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