Já muitas vezes pensei escrever aqui sobre a Rose. Na verdade nunca me atrevi pois não encontrei em mim a capacidade de, através das palavras, descrever esta pessoa. Páro, olho para o vazio e vejo-a à minha frente. Quase metade de mim, é uma mulher em estilo concentrado. Tudo é pequeno nela. Miudinho. Cabelo à escovinha do mais vermelho que já vi. Passos curtos e rápidos a acompanhar a maneira como fala. Em catadupa e em brasileiro. Não é mulher para nos deitar numa marquesa e nos fazer relaxar. Ainda estou a despir-me e já tem a cera na temperatura adequada e as bandas à minha espera. Não há lugar a amabilidades nem paliativos. Digo sempre que me vai doer ao mesmo tempo que me encolho. Não me engana nunca. Confirma a minha dor. Sim, vai doer, anuncia. E mal deixa espaço para o resto. Não há dúvidas. Avança com destreza e rapidez, enganando-me com as palavras. Guarda para aquele momento, tudo o que me quer contar, do mês que acabou de passar. E eu ouço e esqueço a tormenta.
Ontem, foi diferente. Perguntou-me com a mesma energia o que me tinha acontecido este mês. Respondi-lhe, em jeito de graça, que me tinham crescido os pêlos. Devolvi a resposta e... apareceu outra Rose. Ainda mais pequena e miudinha, com um ritmo lento e respirado. Respondeu-me como uma segurança inexistente: mudei a minha vida. Passado anos e anos de uma existência maltratada e infeliz tomou uma decisão. Saiu de casa com a roupa que tinha no corpo e disse adeus a uma vida que a razão lhe dizia não merecer. A razão. A Rose ficou ainda mais pequena e miudinha porque o coração ainda não fala a mesma linguagem que a cabeça. E eu dei por mim a compreendê-la.
Muito bonito. Estou sem palavras.
ResponderEliminarObrigada.
Ângela