terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Alturas

Hoje assisti a uma aula do sétimo ano. Miúdos altos e raparigas de aspecto maduro, faziam perguntas de criança. Sentei-me atrás e distanciei-me dos bonés, dos capuzes enfiados e até da miúda que limava as unhas. Falava-se de drogas. O que eram, o que provocavam... E eles perguntavam. E mexiam-se. E ouviam. E conversavam. E eu dei por mim a desejar falar. Mudar de papel. Passar de observadora a oradora. Imaginei-me a perguntar se já tinham visto alguém morrer. Morrer mesmo! A encher o peito. A procurar ar. E abrir os olhos porque não conseguia respirar. Imaginei-me a perguntar outra vez: já viram alguém morrer? Assim, a um palmo de distância? E imaginei-os a tirar os chapéus. A endireitarem-se nas cadeiras e a destaparem as cabeças. Vi mesmo a menina a esconder a lima e o silêncio a instalar-se. E olhei novamente para eles. Não eram muito diferentes dos  meus filhos. Eram maiores mas não muito distantes das minhas crianças. E não ousei falar. Deixei-os assim, com aquilo que precisavam ouvir. Com aquilo que conseguiam ouvir. Com as palavras que ainda não consigo dizer.
Mas tive dúvidas.

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