quinta-feira, 13 de março de 2014

Este não é um post triste. Embora pareça.

Estou a ler um livro. Não é bem um livro. É o diário de uma mãe que está de luto. Não é mesmo um livro. É uma catarse e uma partilha. Quase um exercício que ambiciona ajudar quem infelizmente passa pelo mesmo. Diria que é um acto de coragem tão evidente que, de página a página, as lágrimas são uma realidade inevitável. O meu corpo reage quando imagino sequer. Não consigo aproximar o meu pensamento desta possibilidade. Mas hoje lembrei-me desta mãe.  Escreve ela, a dada altura, que tudo e nada a faz lembrar a filha. E lembrei-me dela quando hoje peguei numa palhinha e senti essa dor física a que já me habituei. Como um soco na barriga, lembrei-me de quando cortava as palhinhas com os dentes, para as tornar pequenas ao ponto de permitirem que bebesse o seu café deitado. E tentei imaginar como é que este soco na barriga, que é constante com tantos objectos e com nenhuns, seria sentido por esta mãe. Imaginei-o como uma espécie de explosão que se propaga... Às tantas ela escreve que já não sabe se chora pela filha, se por ela própria. Sorri quando li isto. Hoje chorei sem lágrimas quando agarrei na palhinha mas foi por mim. Pela saudade que eu sinto. Pela falta que me faz. Por mim. E a minha onda foi aumentando. O dia foi ficando cada vez mais escuro e mais escuro. E foram-se juntando outras palhinhas... e cheguei a um ponto em que estava completamente... Triste. Mas depois saí do trabalho. E fui buscar o dorsal para a minha próxima corrida e passei junto ao rio. E era final de tarde e a luz era linda. E cheirava a sol. E o dia ficou mais claro outra vez. Assim como a esperança de que estes socos na barriga se tornem cada vez mais suaves. 

2 comentários:

  1. É, esse livro faz-nos deparar com o nosso maior medo e facilmente percebemos que aquela é uma dor insuportável. Bonito posto querida, muito bonito mesmo

    ResponderEliminar