Yes, I can

Estacionei o carro junto à estação de Algés. Um gesto habitual, numa rotina já instalada. Sem medo do escuro ou qualquer outro constrangimento, iniciei o treino. Enquanto corria lembrava-me da frase que ele me disse. Numa crítica, que não era crítica. Quase como um instrutor que empurra o aprendiz, bem na beira do avião. Porque sim. Porque é altura. Porque se pode voar, com a segurança do pára-quedas. "Não sais da tua zona de conforto. Não arriscas!" A sensação foi a de ser empurrada sem me lembrar da mochila nas minhas costas. Senti como um soco na barriga tal a verdade das palavras. Lembrei-me do que ele disse quando cheguei ao ponto onde habitualmente dou a volta. Lembrei-me dele e continuei fora da minha zona. E continuei mais. E mais. Cheguei ao final das docas de Alcântara e entrei em pânico. Sem parar, ocorreu-me que teria de voltar tudo para trás. E que estava sozinha, fora de pé. Recordei-me, então, do que tenho estado a ler. Tudo é uma questão de crença. Em nós próprios e nas nossas capacidades. E as minhas dificuldades só existem na minha cabeça. Em jeito de mantra, repeti em silêncio, as palavras que acalmam o meu corpo, a minha máquina e dei, então a volta. Fiz 12 km. 12 km! Sem parar, sem dor ou descontrolo. Porque consigo aquilo que eu quiser. 

Não só na corrida, às vezes preciso de um empurrão mas, consigo.