sexta-feira, 25 de abril de 2014

Mundo cão

Depois do nosso treino matinal, num exercício de pura liberdade, sentei-me com os meus filhos na praia. De pés arrefecidos na areia fria, olhava para um cruzeiro que passava. O meu filho perguntava porque não podíamos estar ali. Expliquei-lhe, de forma pouco infantil, aquilo que acho que já tem capacidade para entender. Não temos a mesma capacidade financeira do que aquele conjunto de pessoas. Aquele conjunto grande de pessoas. Mas ao sentir os meus pés a revolver os grãos, o vento na cara e o cheiro a mar, acrescentei o argumento em que acredito. Talvez aquelas pessoas sentissem a mesma felicidade se estivessem sentadas ali, mesmo ao pé de nós. Olhou-me espantado mas apenas por alguns segundos. A felicidade dos buracos na areia feitos com as suas mãos, as conchas escondidas nos bolsos e os pés molhados prematuramente naquele mar são, igualmente valiosos. E ele já compreende isso. Contudo, a verdade... a verdade mesmo, é que este é um mundo cão. Mas não lhe expliquei isso. Ainda não. 

4 comentários:

  1. Nem lhe expliques. Fala apenas no prazer das coisas boas.

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  2. Na verdade, é certo que "o mundo é cão". Mas igualmente é certo, de que o maior e mais genuíno prazer, se encontra nas coisas simples. Depois de alguns anos que levo já desta existência, essa é uma certeza que carrego. Estou certo pelas tuas palavras, de que igualmente partilharás deste pensamento. Assim... poderás não ter grande coisa sequer a explicar, mais tarde. A ganância de alguns, impede o acesso a todos, de algumas coisas. Mas essas "coisas"... pouco ou nada valem, quando comparadas com o sorriso sincero e verdadeiro, a contemplação do mar, do céu e das estrelas e do prazer de viajar, com elas. Beijinhos.

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