quarta-feira, 28 de maio de 2014

Magic


Mala, carteira, chaves de casa, bolsas e bolsinhas, casaco, calças, blusa, roupa das miudezas, botas, meias, anéis, relógio... ficou tudo guardado no meu gabinete. Vesti a roupa que já não é preta, calcei os ténis, apanhei o cabelo e lá fui eu, de telemóvel no braço e música nos ouvidos. Aqueci no início do Jardim de Oeiras e rumei ao meu objetivo- casa. Passei Paço de Arcos, olhei para Caxias, curvei no Mónaco e entrei no asfalto da Cruz-Quebrada/Dafundo. Olhei pouco para a vista e muito para o chão percorrido. A música parou nos primeiros quilómetros e pouca vontade tive de repor a ordem. Fui no silêncio próprio da estrada e segui caminho. Já perto de Linda-a-Velha senti aquilo que mais incomoda- um frio que me gela apesar de encontrar-me continuamente quente. Um frio estranho que vem de dentro e se espalha por todos os poros. Um frio que me faz recear um desmaio num percurso isolado e consequente sono perigoso. Simplesmente passou e entrei na minha terra. Sempre a subir, num esforço mais mental que físico. Cheguei, então, a casa- depois de uns dez quilómetros que já não me assustam mas que ainda tenho dificuldades em sentir como prazeirosos. Há pouco tempo corri o meu máximo: quinze quilómetros. Senti-me como um leão na selva, tal a sensação de poder e auto-controle. Mas, daí em diante, num conhecido blues do corredor, entrei em contagem decrescente, nos meus míseros cinco ou confortáveis sete quilómetros. Hoje decidi acabar com esse blues. E decidi que não desistiria simplesmente porque tinha de chegar a casa. Cheguei. Literalmente e metaforicamente. Há coisas mágicas.

2 comentários:

  1. like! para quando marcamos a primeira meia maratona?... ;-)

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  2. Eu odeio correr, mas ADORO andar. Faço muitas vezes esses precurso. Ou então Linda a velha, jumbo de Alfragide, Linda a velha. Também gosto de fazer a marginal Paço de Arcos- Cascais mas ai pelo menos metade da volta já é de comboio...

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