terça-feira, 8 de julho de 2014

A burguesinha que tem o que quer

São quase onze da noite e conduzo pela escura estrada que me leva de Barcarena a casa. A acompanhar as curvas e contra curvas de uma paisagem que contrasta com o ambiente urbano a que estou habituada, ouço uma música brasileira. Sei que o resultado futebolístico pouco os favorece mas continuo a ouvir. Canta-se sobre uma tal burguesinha que tem o quer. O tom depreciativo é evidente e a letra retrata uma moça-tipo cuja vida facilitada é equiparada à de famosos, artistas e afins. Faço as curvas, passo pela ponte e são quase onze da noite. Continuo a ouvir a burguesinha e partilho do tom jocoso, no meu silêncio. Estou cansada e faço um desdém mental às burguesinhas desta vida. Chego a casa e acabo por me deitar. Os lençóis da minha cama estão esticados e frescos como eu gosto. Engulo um iogurte e ligo a televisão. O meu corpo aconchega-se no colchão e sinto a descontração a crescer. Aninho-me ainda mais e, de repente, sou a burguesinha daquela música. Ou quase. 

Sem comentários:

Enviar um comentário