quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Inserir símbolo

É tão fácil comunicar assim! Um coraçãozinho colorido ali, um sorriso com língua de fora acolá, um boneco verde aos pulos... fácil, fácil. Qualquer pergunta tem resposta. Qualquer afirmação tem reação. A minha questão é: será mesmo alguma coisa? Estas não-respostas? São qualquer coisa- um vazio que nos vemos obrigados a decifrar. Ora bem, estou hipoteticamente doente. Partilho o meu estado. Recebo um sorriso. Vamos a isso. Pessoa do sorriso, o que é que queres dizer com isso? Estás feliz por eu estar doente? Achas piada à minha partilha? Ou estás disposta a trazer-me uma canja? Se eu tiver febre alta a meio da noite e se estiver sozinha, posso ligar-te? És pessoa para me levar ao hospital? Vais-me ligar a perguntar o que se passa? O que raio significa o teu sorriso? É um mundo de possibilidades! Na verdade, é quase um Euromilhões acertar na interpretação exata da intenção real de quem me enviou o sorriso. Contra mim falo que uso e abuso dos símbolos e respostas fofinhas. O que querem dizer? Não é a primeira vez que uma dessas pessoas que virtualmente me manda sorrisos e corações, frente a frente, não cospe símbolos sonoros. É quase um desconforto que se gera. Olha, ontem mandei-te três smiles mas na verdade nem te conheço bem. Ainda bem que estás no outro lado da estrada e posso fingir que não te vi. É estranho. É oco. É, mais uma vez, vazio. Acordo, muitas vezes, com imensos corações. Pego no telemóvel e lá estão eles, preenchendo o meu écran. E eu penso "simpático!" E depois penso, "bizarro!" Não sabem porque escrevi aquilo. Nem sabem porque coloquei aquela foto. Não sabem! Como podem enviar-me amor? Sim, é disso que falo. Enviar amor. Não se envia. Não se desenha. Não se faz num segundo. Amor, qualquer tipo de amor, sente-se. Vive-se. Comunica-se por todas as formas, verbais e não verbais- por quem faz sentido. Devia ser proibido enviar assim, gratuitamente. Sem, amor.  

2 comentários:

  1. Nunca tinha pensado nos símbolos dessa forma. E o pior, é o facto de que para além de dizerem várias coisas e não dizerem nada ao mesmo tempo, acabamos por interpretá-los de uma forma muito pessoal...eu, por exemplo, odeio o sorriso cibernético que acho que é sempre um sorriso amarelo e cínico. As palavras são tão mais bonitas que os símbolos! :)

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