sábado, 24 de janeiro de 2015

Complexo de Deus

Por tanta gente que não acredita em algo superior, há ainda mais quem pratica um exercício de auto-divindade que me tira do sério. Têm a crítica na ponta da língua e a voz sai com conotação de sabedoria extrema. Razão só há uma e tem o seu nome por baixo. Sabem tudo e têm uma opinião sobre este mundo e o outro. {Aqueles não são felizes, o outro anda com a outra, gastam o que têm e não têm, não sabem o que fazem!} Vão buscar as vestes, alteram a voz, abeiram-se e avançam com os sagrados ensinamentos. {Faz assim, faz assado, eu não sei mas acho...} Só existe um caminho. E há para quem seja mais fácil ser conduzido. E encarreirar como é suposto. E baixar a cabeça e aceitar a benção. E fustigar-se com imaginárias vergastadas. E... há para quem seja impossível ser assim. Porque não vislumbra a divindade. Porque vê outro ser, igual a si, e talvez com mais necessidade de colo e atenção. Há quem não aceita o sagrado vindo de um ser terreno, tão imperfeito quanto si. A verdade é muito subjetiva. É- digo-o, agora eu, com igual sobranceria. Tão simples quanto o que já todos percebemos. Não há casamentos constantemente felizes, não existem amizades sem erros e desculpas, não há atitudes sempre certas e pessoas integralmente boas. Não há branco e preto- apenas. Há, muitas vezes, o cinzento e, felizmente, uma enorme paleta de cores. 
Por isso, pessoas iluminadas:
Deixem lá de examinar exaustivamente o vosso próximo, apesar de tentador. Não assumam a vossa capa de superioridade, quando ela pode cair amanhã. E já agora, parem lá de criticar os pais e mães que levam as crianças a ver a Violleta! Não, não se estão a estragar as meninas. Não, não vão ser, necessariamente, seres fúteis e ignorantes. É apenas um concerto! Não estamos a levar as miúdas a snifar cocaína.

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