quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Cinzento

Das poucas coisas de que me lembro da faculdade é de uma teoria sociológica que, sinteticamente, dizia que a acção do Homem tinha sempre subjacente uma justificação. Parece óbvio mas, a questão é mais profunda. A teoria dizia que todos os Homens nascem com uma natureza boa e a sociedade é que os corrompe, isto é, todas as suas “más acções” são justificadas pelas circunstâncias da sua vida. Lembro-me de, na altura pensar “escreveu este homem um livro sobre isto!”. Hoje penso o quão perigosa esta teoria é. Ao fim ao cabo, diz este senhor que, todas as pessoas têm boas razões para agirem como agem.
“O serial Killer X matou 20 mulheres porque foi abusado na sua infância pela sua mamã” – tadinho do bichinho…
Aprendemos e ensinamos às nossas criancinhas aquilo que é certo e errado; fazemos questão de, durante anos e anos, delinear bem a fronteira que separa os caminhos percorridos por boas e más pessoas e, depois, chega uma altura na nossa vida em que parece que tudo se mistura. Contra mim falo. Há medida que os anos passam, dou por mim a ser cada vez mais tolerante, compreensiva e flexível. As minhas certezas absolutas vão-se tornando relativas e tenho uma crescente tendência para analisar cada facto sob todas as perspectivas possíveis.  As pessoas e o mundo deixaram de ser pintados a preto ou a branco. Descobri o cinzento e… as suas diferentes tonalidades.
Hoje em dia, aquilo que faço é justificado pelas minhas razões. São só minhas e, com certeza, muito poucos as compreenderiam. Mas eu compreendo e isso basta-me.
Porque sei que isto é perigoso, não tenho dúvidas de que não quero transmitir aos meus filhos a possibilidade desta visão. Continuarei a passar a mensagem de que há pessoas totalmente boas e totalmente más, de que há céu e inferno, e de que o mundo é… a cores!
Branco e preto? Eles não compreenderiam!

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