sábado, 6 de agosto de 2011

Melancia choca

De partida do campo, assumo que sou efectivamente uma moça citadina. Apesar de adorar os aromas, as cores, os sabores… não consigo habituar-me aos ritmos. Não consigo olhar para o céu e adivinhar as horas e o tempo que se avizinha. Não consigo guiar o meu quotidiano pelos tempos dos outros seres que aqui habitam. Mas se há coisa que aprecio são as gentes. As pessoas são genuínas. Das suas bocas saem sábias expressões que são reveladoras das suas experiências e conhecimentos…  há sempre uma história para ser contada. As memórias estão bem guardadas e nada se esquece.

Agora mesmo, o calor levou-me a enfrentar as melgas e fui-me sentar no degrau da porta da casa onde estou há mais de uma semana. Ao meu lado, fazia-me companhia a caseira da quinta. 67 anos que parecem muitos mais; onde cada ruga tem por detrás uma história, uma dor, uma alegria. Já não sei do que falavámos, só me lembro como terminámos. Idade…como o tempo passa. Como é a vida de um casal que se conhece há mais de 30/40 anos.
“Tu és uma menina…eu sou uma velha. Havia tempo que eu o meu marido estavamos no auge da brincadeira!”.
Comecei a achar deliciosa a conversa.
“O homem nunca deixa de ser homem, filha! A mulher… ai, a gente já nem tem posição, nem vontade.” Mas o que eu adorei mesmo, o que me levou a partilhar esta história tão privada de alguém que faz parte da minha vida ainda era eu, aí sim, uma menina, foi o seguinte diálogo:
“Há dias, o meu marido dizia: parece que tou a foder uma melancia choca. E eu respondi: Então vai buscar a melancia!”
Se isto não é amor…

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