quarta-feira, 27 de junho de 2012

Dizer o quê?

A minha querida H. pediu-me um favor. Pediu-me que sensibilizasse os meus leitores para a protecção dos animais. Concretamente, pediu-me que apelasse ao não abandono, em período de férias. H., não sei como o fazer! Simplesmente não partilho do mesmo esquema mental dessas pessoas e, como tal, não sei como comunicar. É uma realidade que eu- num autismo deliberado- simplesmente recuso-me a acreditar que existe. O meu coração, a minha educação, o meu respeito pelos seres vivos não concebe tais atitudes. Maldade é maldade. Seja com crianças, com idosos, com os nossos companheiros, com a nossa família, com as plantas ou piriquitos. Como convencer uma pessoa a não abrir a porta do carro e a despejar o seu cão sem dó nem piedade? Não sei.

No ano de 2006 eu enterrei a minha gata. Quem me conhece sabe que foi um dos dias mais dificeis da minha vida. Eu não perdi nem um gato, nem um animal de estimação. Eu perdi um elemento da minha família. A minha companhia de 17 anos. A minha bichinha que dormiu comigo todos os dias da sua existência. No meu pescoço... com o seu nariz no meu ouvido. Como criança primeiro. Acordou-me diariamente lambendo a minha cara. Aqueceu-me nos dias frios. Consolou-me nos momentos tristes e alegrou-me em todos os outros. Fomos crescendo juntas. Quando casei não equacionei outra hipótese. Apesar de partilhá-la com a minha mãe e quatro irmãos, foi comigo que ela veio. Não se suponha outra decisão. O meu marido, também apaixonado por ela ficou feliz. A minha gata conheceu a minha bebé e muitas noites dormiu aos seus pés. Também o meu filho a viu mas a lembrança foi-lhe arrancada pela tenra idade. Nos últimos dias, senti a sua respiração dificil como se a mim própria faltasse o ar. Olhava para mim (posso jurar) com um profundo amor. E quando, por fim, me deixou cheirei-a para nunca mais a esquecer. E não esqueço.


Já de lágrimas nos olhos te digo: Querida H., ainda achas que consigo comunicar com alguém que faça mal a um animal? Desculpa, mas não consigo.  Não tem a ver com os animais. Tem a ver com a essência dessas pessoas e essa... não sou eu que vou conseguir mudar.

5 comentários:

  1. Verdade verdadinha. Quem pratica um acto desses nunca irá compreender o que é esse Amor que tiveste pela tua gata e que eu tenho pelos que partilham o espaço comigo, tal como os outros que já o fizeram e ainda os choro.
    Não dá para alterar essas mentalidades, infelizmente.
    Felizmente, existe quem os ama, recolhe e prova que viver vale a pena e que alguns humanos também valem.

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  2. Concordo mesmo! Está no mais íntimo das pessoas!

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  3. Como eu a compreendo.
    Tenho um gato com um aninho, branco de olhos azuis...lindo!!!
    Já não imagino a minha vida sem ele... até as férias fora custam a passar...mesmo sabendo que fica bem tratado.
    Sei que há amor reciproco e verdadeiro.

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  4. Eu ajudo num abrigo de animais e sinceramente, todos os dias fico chocada.

    Não exijo, nem prego a ninguém que ame os animais. É como diz.. Isso é a nossa essência. Ou temos ou não temos. E acredito que feliz de quem os ama pois tem uma vida muito mais rica. Acredito que amar os animais é um privilégio que (infelizmente) poucos têm.

    O que prego e exigo é que, mesmo não os amando, os respeitem. São seres vivos e partilham o nosso espaço. Merecem, pelo menos, respeito.

    Sempre amei os animais e não consigo conceber uma família sem o meu "menino" fazer parte dela. Sempre tive cães e gatos desde bebé. Fazem parte de mim. Mas digo-lhe que, desde que me envolvi na protecção dos que aparecem abandonados que, se por um lado a minha vida enriqueceu bastante, por outro há um pedacinho de mim que morre todos os dias. Há algo em mim que morre sempre que vejo um caso de abandono, de maus-tratos, etc. Hoje em dia dou por mim muitas vezes a perguntar: Meu Deus, mas que mundo é este???? Eu não quero pertencer a este mundo!!!:( :(

    Obrigada por este texto!

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  5. Beijinhos para todas! Obrigada pelas vossas palavras!

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