Ensino básico, o estágio para uma vida sem fim-de-semana

Eu não sei se têm a mesma experiência que eu mas, é raro o domingo que eu não passo a tarde agarrada a uma caneca de chá e com restos de borracha entre os dedos, cabelos e cérebro. Duas crianças, com níveis diferentes de ensino, letras e posturas próprias, e tarefas distintas, fazem de mim uma espécie de poltergeist da pedagogia. Como que a ver uma partida de ténis, o meu pescoço roda mais vezes do que a miuda do exorcista sendo que a minha voz, à medida que as horas avançam, adquire sonoridades de meter medo ao susto. O meu filho tem a mania de utilizar um só bracinho, para além de que tem a tendência para se levantar constantemente permanecendo a cabeça cuidadosamente deitada sobre os papéis. Diz que não sabe desenhar um caracol em cima de uma colina e ainda escreve que 'à moitos dias...'. Está sempre muito cansado e suplica por um adiamento eterno. A mais crescida, com postura arrogante e convencida, responde com alegria às perguntas que não lhe são dirigidas. Organiza tudo e tudo. Estojos, marcadores, cadernos, gramática e mais houvesse. Acha-se a mais rápida e eficiente. Exige ser cronometrada, testando já o exame que a espera no final do ano. Aviso-a dos perigos da rapidez, mesmo tendo a certeza que é uma mensagem não recebida. A vida sem água é... Nas suas palavras 'complicada, porque não conseguimos pensar, nem trabalhar'. Não lhe ocorreram as frases do texto que falavam dos campos secos, das flores murchas e dos animais sedentos. Respiro cinco e três mil vezes e dou uso à tinta branca. O caracol da colina já está a ser pintado e andamos nós ainda à volta da passagem do estado líquido ao gasoso-qual gotinha que foi beijada pelo sol. Já tenho os pés frios e no momento em que me apercebo que simplesmente não sei o que são advérbios, pondero contratar uma tal de Wikipédia. 

Se ainda passar a ferro e cozinhar... Vou à minha vida!