quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Ainda bem que não o escrevi!

Ando há dias a pensar nisto. No âmbito de um projeto com o qual colaboro, pediram-me para escrever sobre o Natal. Sobre o Natal! E eu ando às voltas com isto e não escrevo nem sobre isto, nem sobre nada. A minha primeira reação foi de dor. Não vai ser Natal. Perdi o meu pai este ano. Morreu. Para sempre. Não tenho porque festejar. Nem quero. Num luto que poucos vêem, não sinto vontade  de viver esse tempo que é de alegria. Mas, pensando bem, nem sei se, fossem outras as circunstâncias, conseguiria escrever sobre o Natal. Que texto seria este? O culto dos enfeites luminosos, prendas sem fim e comida até mais não? Dissertações acerca dos pobres e desgraçadinhos? A união familiar envolta em corações e estrelinhas? Também não o faria. Não é esse o meu Natal. Nunca foi. 
Lembro-me de ter pedido uma boneca à minha mãe. Branca, loira, luminosa. Lembro-me de ter recebido uma morena, escura e assustadoramente diferente daquilo que esperava. Dela, não do Pai Natal em quem nunca acreditei. Abanava as prendas até mais não, rasgava os cantinhos dos embrulhos e massacrava os meus pais natais para que revelassem as ofertas que demoravam a ser abertas. Recordo-me de ser praticamente uma militar, rastejando pelo chão, evitando ser avistada pelos meus pais, até a um pinheiro, com musgo, resina e muitas cores. Feliz. Numa casa cheia, Natal era, acima de tudo, confusão. Tudo o resto já lá estava. E é assim que vivo ainda hoje esta época. Dividindo-me entre casas, fazendo os coscorões para o meu irmão caçula, refletindo sobre a ementa com a minha mãe, esforçando-me para que os meus filhos se sintam agradecidos pelos privilégios que têm, negando o cheiro a fritos mas lambendo-me pelo bolo rei... Desejando estar no sofá da minha mãe, aquecida pelas pernas de dois ou três irmãos, crianças felizes e um bom filme. Só isto. É o meu Natal. Que texto seria este?

6 comentários:

  1. Este e nenhum outro.
    (também eu fiquei sem o meu pai este ano e ando aqui com os sentimentos confusos; quase como que zangada…nem sei explicar)

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  2. Muita, muita força è o que lhe desejo e um baraço bem apertado, porque apesar de se encontrar numa fase de negação sabe sempre bem e conforta.

    Um beijinho GRANDE, Andreia ♡
    http://pontofinalparagrafos.blogspot.pt

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  3. No Natal passado entrevistei uma pessoa que ia celebrar o seu primeiro Natal sem o pai. E perguntei-lhe se havia motivos para celebrar ou se preferia não fazer nada por causa da ausência de alguém tão importante. E a pessoa disse-me que preferia festejar. Que a pessoa não ia ser esquecida. Que o seu lugar não seria ocupado. Mas que ia celebrar-se a vida dos mais pequenos da família. Isto está muito resumido. A resposta durou minutos. E aprendi muitas coisas naquelas palavras. Força.

    homem sem blogue
    homemsemblogue.blogspot.pt

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  4. Em pequena a minha família juntava-se. Com o tempo, uns cresceram e foram para longe, outros morreram até me ver reduzida a um Natal entre mim, os meus pais e o Mickey (o meu gato). Depois saiu o gato e "surgiram" os meus dois filhos. "Temporariamente" o pai deles.
    Este ano também perdi o meu pai. E ando aqui com os sentimentos confusos. Se não tivesse as crianças sei que não iria festejar nadinha. Ainda por cima desempregada. Revejo agora a situação que também vivi de pedir uma boneca e receber outra, de pedir uma bicicleta e receber outra e por aí fora. Na minha altura era o "Menino Jesus" e por vezes não gostei muito dele...

    Por outro lado lembro-me que o meu pai gostava que estivéssemos ali junto dele no Natal. Mesmo que não falasse muito. Mas acabávamos a noite a ver um filme. E essa parte sempre adorei.

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