terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Num mundo ideal, a minha mãe não faria bifes de frango com delícias do mar

Num mundo ideal, não existiriam atividades extracurriculares. Tudo era assegurado em contexto escolar e os pais não passariam horas com a testa fria encostada a uma rede qualquer. Num mundo ideal, não era necessário saber de côr as dinastias, reis e cognomes e os queridos educadores não passariam vergonhas a fazer contas de dividir com dois algarismos e uma subtração incorporada. Num mundo ideal, a casa nunca acumularia pó e muito menos areia espalhada pelas patinhas de um qualquer gato. A comida era confeccionada por alguém, que não nós próprios, e era equilibrada, saborosa e saudável. Num mundo ideal, todo o metro quadrado habitacional era aquecido até uma temperatura adequada para a utilização de roupa reduzida. Na televisão eram abolidos todos os períodos de anúncios que ultrapassassem os 2 minutos e as festas de verão, natal, páscoa e afins, que pululam por todo o território nacional. Num mundo ideal, as crianças brincariam de forma amiga e harmoniosa e as bolas de futebol não rebolavam a partir do 1º andar. As birras, choros e zangas estariam sempre reservadas para os vizinhos do lado a quem poderiamos criticar com arrogância a altivez. O armário seria luminoso e os conjuntos de roupa, não se repetiriam. No mundo ideal, as sobremesas de doces de ovos e chocolate derretido, com natas ou bolacha, ou simplesmente puro açúcar, fariam bem ao colestrol, glicose e demais indicadores médicos. O despertador seria, apenas e só, o nosso acordar natural e, o pequeno-almoço incluiria mais do que três ingredientes. No mundo ideal, as casas de banho teriam de um sistema de auto limpeza e as Isauras (tenebrosas fisicamente e amorosas relacionalmente) seriam fiéis prossecussoras do nosso bem-estar familiar. A relação amorosa estaria sempre no pico da paixão e até umas meias enfiadas por cima do pijama reflectiriam uma sensualidade extrema. No mundo ideal não existiria o mundo real. Onde as crianças (não vou denunciar quem) levam a batalha de São Mamede toda escrita numa só palma da mão. Onde a mãe, não sei de quem, faz bifes de frango com delícias do mar. Onde, alguém (!!!), se enfia na cama com o robe vestido. Onde se ingerem 400 calorias em 10 minutos e leva-se o triplo do tempo- sob dor, lágrimas e suor- a perder igual valor. Onde esta pessoa, engole uma quiche de fiambre, sentada na secretária e com um termo- ventilador às costas.

6 comentários:

  1. Ai Meu Deus...so, so, so TRUE... beijinhos

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  2. Estou aqui a pensar para que é que, num mundo ideal, precisaria de 2 minutos de publicidade. Ou de televisão. Ou porque é que haveria alguém que cozinharia para outros, ficando privado de um mundo ideal.

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  3. Olha que pensei o mesmo da Carla R."porque é que haveria alguém que cozinharia para outros, ficando privado de um mundo ideal". E mais: o mal dos mundos ideais é que são uma chatice, e depois não há posts destes!
    Um mundo ideal... para quê?

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