quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Pedagogia do Terror: a estragar crianças desde 2004

A minha mãe não é mulher de abraços e beijinhos. Por qualquer preocupação nossa passa noites sem dormir e faz sacrifícios sem fim. É mulher para se esquecer de si própria... Chora durante intermináveis horas e toma como seu aquilo que é nosso. A minha mãe não é mulher de abraços e beijinhos mas, o seu amor é assim, o nosso porto seguro. Mas talvez por sentir na pele esta distância física, ouço a história contada como se de remédio se tratasse. Era eu pequena, com idade que a minha mãe não sabe precisar, e não parava de chorar com supostas dores de barriga. As dores eram demasiadas a julgar pelos desmaios associados. Fui internada e sei que fizeram todos os exames possíveis sem nada ser diagnosticado. Quando chegou a noite e a decisão de ficar sozinha, a minha mãe não aguentou. Conta que a agarrei de tal modo que deixar-me ali era impossível. Contra indicações médicas levou-me. As dores tal como apareceram, não deixaram lembrança. A única memória é mesmo o gesto contado que não esqueço. Quando fiz o que fiz há dias, lembrei-me da minha mãe. E de como há coisas que nos fazem tão parecidas. Fomos ao médico com a nossa filha. Suspeitávamos de uma maleita e fomos informados de uma outra. Nada de especial ou sequer próximo do grave. Facto é que a médica sugeriu uma cirurgia com alguma urgência. Avisou-nos que não invalidava problemas futuros mas que seria uma correcção que aconselhava e só era possível neste momento. A conversa que envolveu detalhes médicos que assustariam o mais musculado adulto foi feita à frente da minha filha. O resultado foi o esperado. Medo e pavor expressos em choro. Ficou a promessa que pensaríamos e comunicaríamos a decisão. O caminho percorrido até ao carro foi dramático. E tal como a minha mãe... não aguentei. Enquanto o meu marido a confortava com segundas e terceiras opiniões médicas, uma cuidada reflexão e demais argumentos... agarrei-a. Enquanto lhe dava beijinhos deixei escapar a decisão. A minha decisão, tomada ali no parque de estacionamento, sozinha. Disse-lhe ao ouvido 'Não vais ser operada. Eu não deixo', enquanto ele continuava com a promessa de uma atitude ponderada. Disse-lhe duas vezes. Para que ouvisse. E não me arrependo. Tomámos a mesma decisão horas mais tarde. Mas, naquele anterior momento em que murmurei no seu ouvido, foi como se a tivesse levado ao colo de uma cama de hospital, como a minha mãe fez. Porque sendo diferentes, na protecção somos iguais. Leoas. E... vai correr tudo bem!

6 comentários:

  1. Que corra tudo bem e que o problema de saúde se resolva sem ser preciso a operação.

    Um abraço apertadinho

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  2. Há mesmo pessoas que têm a profissão completamente desadequada... E isso é o que me entristece mais nessa tua história. Porque o resto é apenas uma manifestação da mulher que és e daquilo que és capaz, como só uma mãe leoa é capaz! E do lugar da tua inspiração :)

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