sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Acerca das não-reacções

Não há pessoa que eu conheça que não se orgulhe da sua frontalidade. Quando questionados, a resposta não é só afirmativa como assume cariz de bandeira- "eu sou frontal!". Não levar recados para casa, responder a tudo na cara, dizer literalmente o que se pensa é entendido como o expoente máximo da liberdade de expressão de qualquer pessoa que se defina como genuína. Quando, com todas as letras, assumo que sou pouco frontal, sinto o silêncio a pairar. Como se tivesse acabado de defender a pesca de baleias ou o espancamento à paulada de focas bebés. E é mais ou menos por esta altura, em que o silêncio se estende até aos limites da confortabilidade, que interrompo o espanto e fundamento. Não  sou muito frontal, não. Tenho um terrível receio de magoar quem recebe a minha mensagem e, creio mesmo, que nem tudo deve ser dito. A dialética causa- efeito tem tempos diversos, para mim. As mensagens podem ser passadas de outras formas, noutras alturas, através de outros contextos. Acredito que a melhor forma de dar uma lição a alguém é colocado na situação inversa e fazê-lo perceber como seria se recebesse a reação que está habituado a dar. Obviamente que nem sempre o outro entende o alcance ou sequer, quer saber. Mas, não acredito nessa frontalidade que se apregoa com orgulho. Nem acredito em quem a veste como um manto. Acredito, sim, que mais nobre é a capacidade de ouvir, de perceber as razões dessa reação, e de agir sem magoar e, acima de tudo, sem se magoar. Ando por aqui. Por aproximações. A ouvir alguns, a perceber outros e à espera que outros percebam. Tranquila. 

11 comentários:

  1. Tenho uma amiga que diz que "a frontalidade em excesso, a ferro e fogo", deixa de ser virtude e passa a ser defeito. Às vezes é mesmo melhor ouvir, escutar, perceber, intuir e tudo isso nos dará as coordenadas certas para os "tempo e espaço" certos.
    Adorei este post, um beijinho!

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  2. A frontalidade, em determinados contextos, pode ser uma forma de violência...

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  3. Apoiado. Odeio a ideia corrente de quem (outra expressão ridícula) "tem muita personalidade" é quem fla à bruta mesmo quando não é preciso e grita quando se chateia. Se não, é mole e falso. Pelo contrário. Quem tem pinta é quem sabe dosear, ouvir (das coisas mais importantes na vida) e não dá o grito à primeira oportunidade, à espera da catarse fácil e do confronto ultrapassado em menos de nada com uma sacudidela, quem também tiver personalidade saberá aguentar... agora, dosear é obra. Coisa para dar cabo da cabeça a uma pessoa. Mas vale a pena.

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  4. Muitas pessoas pensam que "não ser frontal" é ser-se hipócrita, falso...E daí o desconforto quando se assume que é pouco frontal. Sou da opinião que só é hipócrita que diz uma coisa e pensa outra... e eu concordo com o que diz: nem sempre se deve dizer tudo e, na verdade, ficar calado é uma arte...

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  5. e há também uma linha muito ténue (mesmo) entre ser-se frontal e inconveniente. Infelizmente, cada vez mais vejo pessoas assim, que mesmo que não lhe seja pedida opinião, a dão na mesma (e geralmente pela negativa) porque são "muito frontais"...

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  6. Isto é tããão verdade em mim... vou copiar e botar lá no meu estaminé, ok? com a devida referência à autora, claro está! ;) Bjss

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