terça-feira, 18 de novembro de 2014

Quem não sente, não é filho de boa gente. E quem sente, tem de sentir pouquinho. Ou não.

Quando faltam os argumentos de consolação, é comum o recurso à desgraça do outro. Se partiste uma perna, há quem tenha partido duas. Se não estás feliz no casamento, há quem seja violentado no seu lar. Se estás num emprego que não te motiva, há quem não o tenha. Tudo é potencialmente relativo e, para o bem é para o mal, conseguimos sempre arranjar a referência que nos convém. Mas a verdade, é que as nossas dores, são as nossas dores. São pequenas ou grandes, apenas e só, face à nossa história. Face àquilo que vivenciamos. Mimados, frágeis, sensíveis, dramáticos, o que nos quiserem imputar. Sentimos aquilo que sentimos. E não nos interessa propriamente que tenha caído um poste em cima de um gatinho felpudo, mesmo há minutos, porque não sentimos menos. Mas aceitamos a comparação. Encolhemos os ombros e simulamos uma humana compreensão. 
Cada vez tenho mais dificuldade nesta diplomacia das dores. Em todos os sentidos. Faltam-me as palavras de consolo a quem me procura e saem-me uns "isso é horrível mesmo", "prepara-te porque vais sofrer". Por outro lado, nego o sentimentozinho. Estou um pouquinho triste ou razoavelmente contente. Não. Estou estupidamente feliz independentemente da fome mundial que não consigo travar ou terrivelmente infeliz mesmo com tudo para não o ser. 
Apetece-me dizer-te, assim, que sei que a tua dor é real. Que sei que custa e vai continuar a custar. Que te deves sentir assim, porque tens razões para tal. Mas, e a diferença reside aqui, sei que vai passar. E essa dor vai-se atenuar. E vais sorrir. E vou sorrir contigo! Estupidamente felizes!

2 comentários:

  1. Diz uma sábia amiga minha "Pimenta no sim-senhor dos outros é refresco".
    Lembro-me tantas vezes disso!
    E, sim, [na maior parte das vezes] tudo passa.
    Obrigado pela partilha!

    ResponderEliminar
  2. É exactamente isso.
    E o alívio de ouvir "sim, é uma grande merda" em vez do "deixa lá, vai passar" / "tens de ter força" ? Obrigada.

    Marina

    ResponderEliminar