segunda-feira, 13 de abril de 2015

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Foi há cinco, talvez sete, quem sabe dez anos. Ele sentiu-se mal. Reconheceu os sintomas, pegou no seu carro e entrou no hospital. Não tinham urgências, avisaram. Estava a morrer, informou. 
O meu telefone tocou lá pela uma da manhã. Parei de respirar. Corri. Disseram-me que não valia a pena. Vale sempre. Chorámos quando nos vimos. [Não aguento o telefone à noite. Não aguento.]
Volvidos cinco, sete, quem sabe dez anos, o telefone tocou outra vez. Estava lá novamente com um aviso sério. Coração, outra vez. Corri novamente. Voltou o mesmo cenário e mais medidas- estratégia para quem é repetente. 
Desta feita, contudo, foi diferente. Voltou para casa passado uns dias e lá regressou para o delicado procedimento. Estava nervoso. Dizia piadas, como eu. Foi. E eu fiquei ali. À espera. Soube então: 
Há cinco, sete, quem sabe dez anos atrás, pediu a um enfermeiro para telefonar ao meu pai. No escuro da ocasião, falaram muito tempo. Explicou-lhe em pormenor o que havia acontecido. Respondeu a todas as dúvidas próprias do desespero de um pai.
Volvido este tempo, levava-lhe o dinheiro. Queria, porque queria, pagar-lhe a chamada telefónica, simplesmente porque se havia lembrado. Nervoso, com medo, pensou no enfermeiro que o ajudou. E encontrou-o. Não aceitou o dinheiro.

[Porque este é também um repositório de histórias, conto esta. Mostra quem tu és. É uma história bonita.]

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