sábado, 25 de julho de 2015

1, 2, 3, já cá estamos outra vez

A dinâmica de hoje obrigava-nos a um exercício de memória, adequado a quem a está a perder. Pedimos que pensassem nas férias. Sem limites ou regras. As férias de há 30 anos. As férias do mês passado. As passadas em quentes praias ou as do Natal. Basicamente, pedíamos memórias boas. Como habitual, começámos por dar o exemplo. A Marta regressou à sua infância. Falou das barraquinhas às riscas, da praia ao pé de casa e parou. Os olhos encheram-se de água. Lembrou-se de quem já cá não está... Comecei a partir daí. Controlada, cautelosa... refugiei-me no humor. Contei como viajávamos, rumo ao Algarve, todos os Verões. Num, em particular, íamos os cinco no banco detrás, colados, com os nossos pais à frente e todo um mundo de malas e colchões sob cordas atadas no tejadilho. Lembro-me de nos apitarem e de nos fazerem sinais. Tudo estava espalhado pela estrada... todos se riram e iniciaram a sua partilha. Tomaram a mesma decisão. Memórias alegres, histórias engraçadas, lembranças e mais lembranças. Enquanto pensava que a doença de Alzheimer não conseguia roubar tudo, lembrava-me do que podia ter contado. Sem me perder... Nós os cinco apertados no banco de trás. A mão grossa do meu pai a fazer-nos festas adivinhando as pernas de cada um. O frango frito e o trinaranjus de laranja, na bagageira aberta. Os jogos de cartas, à noite, perto da piscina. A fruta comprada à beira da estrada. As sandes de ovo na praia. O Rui a deixar cair os Calipos, o Pedro a dormir de barriga para cima, o Filipe sempre bebé e o João próximo e igualmente distante na sua já adolescência. O toque do despertar lá pelas 8... as horas de digestão religiosamente contadas... o creme protetor de um branco que nos envergonhava... Nadar em cima das costas do meu pai. Apanhar ondas em corridas sem fim. As idas ao mercado. Os figos e as amêndoas para a tarte. A minha mãe cansada. As sestas da tarde. As noites quentes e o som das cigarras. O nosso primo Daniel. As sardinhas. A nossa gata que estranhava e se habituava. Os postais e cartas que enviava. 
Seguem-se outras memórias. Mais recentes. Diferentes. Com amigos, com filhos, com a família. Sempre por aqui. 

Chegámos hoje. O meu filho abriu a janela e disse "cheira a Algarve". Não vinhamos cá há três anos... Tudo se mistura. A lembrança de nós crianças, todos juntos. A dor de estar aqui sem... As coisas que já não são a mesma coisa. As boas que agora vivemos e as memórias que o futuro no reserva. 
Cheira a Algarve, de facto.






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