domingo, 5 de fevereiro de 2017

As nossas razões são a nossa verdade

Separamo-nos desde que nascemos e dói sempre. Sempre. Separamo-nos do ventre da nossa mãe, mudamos de mesa na escola, dizemos adeus ao quarto da nossa meninice, deixamos os irmãos, choramos namorados e até aquele primeiro carro que pura alegria nos concedeu. As separações são sucessivas e nunca nos habituamos. A morte será talvez o expoente máximo da dor pois não há opção, liberdade de voltar atrás, pedir desculpa ou apenas vislumbrar ao longe. Mas há outras tantas dolorosas. Quando nos despedimos de um amigo que continua à nossa frente ou quando não compreendemos o adeus do outro. Tenho assistido a muitas separações. Algumas vivo, noutras sou mera observadora de bancada. Não deixam de custar por isso.
Tenho 39 anos e tenho pensado nisto. Que sou demasiado nova para ter perdido a comum (diria normal) indignação. Não reconheço nenhum julgamento em mim. Isso assusta-me. Será uma perca de fé ou uma tolerância desmedida? "Agora percebi que me traiu toda a vida. É um monstro." Não é. É o meu amigo. Aquele que sempre conheci assim. Aquele que viveu sem pai e sem mãe. Que encontrou nas relações fortuitas uma forma de atenção, de poder. O meu amigo que sempre olhou apaixonado para ela mas que nem isso chegou. Nem se misturou! Isso desculpa? Não. Isso justifica? Talvez. Não tenho respostas mas, consigo enquadrar. Entendo.
Como compreendo que eles se tenham ido embora, ontem. Não partilho das suas razões mas... não são minhas.  "Vais ficar sempre nos nossos corações" Enviei-lhes muita sorte- um desejo que poucos compreenderão.
As separações custam sempre principalmente quando não dependem de nós. Bom, as outras podem ser ainda mais demolidoras.
Talvez não tenha perdido a fé, não. Porventura fazem sentido e são necessárias ao nosso crescimento.
Desejei-lhes sorte.
"Por favor, digam se chegaram bem."

3 comentários:

  1. Separar é isso mesmo, perder algo que tínhamos como parte de nós. Custa sempre, seja no que for, e não, nunca nos habituamos, com sorte aprendemos a sofrer menos. bjs

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  2. Que saudades de te ler. De sentir o que escreves. Brilhante minha Pedagogia do Terror. Agora é só continuar. Fico à espera. <3

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  3. "Por favor, digam se chegaram bem." - é neste momento que chegada a bofetada desta texto

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