quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Estes difíceis amores

Eles diziam-me "estás sempre com ar de enjoada". Da minha adolescência, é essencialmente isto que recordo. Mais do que o primeiro soutien ou o cartaz mostrado à vizinha em frente, dando conta da minha recente condição de mulher, lembro-me deles dizerem-me isto. Ria pouco, falava menos e estava sempre com um ar que me tinham vendido os órgãos no mercado negro. Os meus irmãos achavam-me insuportável e, na verdade, eu própria não aguentava o meu azedume. E ficava ainda mais enjoada. Não consigo precisar quanto tempo durou este looping de emoções e nem tenho lembrança de o transportar para a vida fora das paredes familiares. Acho que era outra pessoa para os outros. Fofinha, queridinha, brincalhona. A guerra era para os meus. Hoje acordei a meio da noite a pensar nisto e a perceber que tenho de me documentar acerca da adolescência. Porque raio se dá este desprendimento, esta revolta, este crescimento abrupto? Como se passa do pequeno bebé, da criança que nos pede colo, para aquela que nos olha com desdém. Ela foi peremptória. Eu sou mais adolescente do que x porque eu consigo responder-vos mal. Como assim? Essa não é a definição de adolescência. É, é. -Ai não é, não! (Xiii, eu andava sempre enjoada.) 
Estou a ler "Estes difíceis Amores", de Júlio Machado Vaz. Leio avidamente as histórias de amores que morrem, amores que nascem, amores que se substituem, amores que enganam, amores, amores, amores. Folheio na esperança de chegar a estes difíceis amores que agora teimam a negar-se, esperando uma resposta. A data em que regressam.

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