terça-feira, 27 de maio de 2014

Em simultâneo

Neste sábado vamos estar na Feira do Livro de Lisboa. Soube-o hoje da parte a tarde e, enquanto manifestava a minha alegria, sentia uma dor silenciosa que não partilhei. É, de facto, um grande orgulho. Há pouco tempo atrás, era impensável para mim toda esta atenção. Mais do que esse foco, não imaginava que concretizaria alguns destes meus sonhos ligados à escrita. Mas, se a felicidade é imensa ela está a par e passo com a tristeza. As coisas boas só fazem sentido se forem partilhadas com aqueles de quem gostamos e, de repente, senti essa lamentação- a de não poder viver com o meu pai que já não vive. Falta pouco para fazer completar um ano desde a data da sua morte e, talvez ainda não tenha feito o que se espera. O luto é um processo e percebo que cada pessoa tenha os seus tempos. Eu, pelos vistos, estou algures no início desse caminho. Quando hoje soube da notícia feliz, pensei que se ele imaginasse iria adorar e, por uns segundos, esqueci-me. Esqueci-me mesmo e voltei a lembrar-me. Como me acontece vezes sem conta. Talvez este meu persistente esquecimento tenha permitido que aguentasse quando o meu querido Armando Soares leu, em plena promoção do livro, o texto que marcou o dia mais difícil da minha vida. Enquanto a plateia enchia os olhos de lágrimas, eu olhei para todas as direções e nenhumas e, segurei. Obriguei-me a esquecer. Mais uma vez.

Há pouco escrevia sobre a calmaria depois da tempestade. Estava agora a pensar como há tempestades e calmarias que coexistem assim: numa estranha sintonia.

6 comentários:

  1. o luto vai-se fazendo, não sei se tem prazo... pensa que esses momentos, mesmo que já não sejam partilhados, são o que o vai mantendo vivo em ti ��

    [eu infelizmente já não vivi com o meu pai nem o casamento, nem o nascimento dos meus filhos, e ao fim destes anos todos, continuo a querer que ele aqui estivesse comigo tantas vezes!!]

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  2. Deve ser um vazio que, graças a Deus, não sei ainda ao que sabe.
    Mas deixo-te apenas um beijinho de conforto. (se é que serve para alguma coisa)

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  3. Eu, felizmente, não sei o que é o luto, por isso, amiga, meu coração aperta-se só de te descobrir assim. Estarei sempre aqui para ti, sempre

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  4. Minha querida e eterna colega da primária, na verdade, as saudades ficam-nos para sempre. Mas o tempo ensina-nos que todos quantos amamos, moram em nós eternamente.

    É claro que a sua presença física nos faz falta, mas sabes... a doença prolongada do meu Pai, ensinou-me até ao último dia a dar valor até ao ponto em que so m segurava no dedo dizendo "presente" e depois só olhava e no fim: nem isso.

    E acredita, ele pode ter partido da terra dos vivos, mas sinto-o mais presente do que nunca. Nas minhas vitórias, nas minhas derrotas, nas minhas viagens, nos meus sorrisos. Nas minha lágrimas também, que as há, raramente.

    Sabes, querida amiga: no fim, estamos todos juntos. TODOS.

    Beijo no coração.

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  5. Minha querida e eterna colega da primária, na verdade, as saudades ficam-nos para sempre. Mas o tempo ensina-nos que todos quantos amamos, moram em nós eternamente.

    É claro que a sua presença física nos faz falta, mas sabes... a doença prolongada do meu Pai, ensinou-me até ao último dia a dar valor até ao ponto em que so m segurava no dedo dizendo "presente" e depois só olhava e no fim: nem isso.

    E acredita, ele pode ter partido da terra dos vivos, mas sinto-o mais presente do que nunca. Nas minhas vitórias, nas minhas derrotas, nas minhas viagens, nos meus sorrisos. Nas minha lágrimas também, que as há, raramente.

    Sabes, querida amiga: no fim, estamos todos juntos. TODOS.

    Beijo no coração.

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