segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Sangue frio requere-se

Lembro-me de um dia específico. O meu irmão Pedro atirou-me com um copo de plástico à cabeça. Doeu para burro. Doeu mesmo e eu fiz o que uma qualquer criança faz. Sentei-me no chão, numa reentrância do corredor e esperei. Não sei quem chegou primeiro, se o meu pai ou a minha mãe mas recordo-me de iniciar o choro quando senti a chave a rodar. Ele também chorou... 
Os meus pais nunca foram pais de castigos. A consequência era rápida e dolorosa mas depois passava. Assunto arrumado. Fungava-se um bocadinho, baixava-se as orelhas e pouco depois estávamos prontos para outra. Talvez por isso, eu hoje não seja muito boa com castigos. [Nem com aquela dor física, na verdade.] Mas com os castigos sou mesmo má. As  semanas nunca são semanas, os brinquedos são sempre devolvidos e dou abraços e beijinhos mais depressa do que se apaga a minha memória. Lembro-me agora do copo e do choro programado. O castigo agora foi sério e prolongado. E eu estou aqui. A contar os minutos daquilo que é suposto durar mais do que umas horas. 
Lembro-me do copo pois pergunto-me onde pára aquela miúda...

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