domingo, 12 de outubro de 2014

Qualquer dia morro. Enquanto isso... emails enviados

Lembro-me exatamente do dia em que percebi que todas as pessoas morriam. Que a vida obrigatoriamente acabava. Via desenhos animados sobre o corpo humano e naquele "Era uma Vida", o coração estava no cerne da mensagem. O coração pára e tudo o resto morre. Senti um murro no estômago lançado por aqueles homenzinhos de barba branca. Deitei-me não serena. Pousava a pequena mão em cima do sítio onde imaginava que estaria o motor e mantinha-me atenta ao seu ritmo. Lembro-me de estar escuro e esforçar-me por perceber se tinha parado ou não. Tentava ouvi-lo quando não o sentia sob a minhas palmas. Quando o silêncio era absoluto aguardava o meu destino mortal mas nada acontecia. Acabava por adormecer acordando sobressaltada, não sei quanto tempo depois, só para verificar se ainda vivia. Não sei quantos dias levei a aguardar a minha morte iminente mas sei que mudou algo em mim. Estranho. Pequena percebi que não vivíamos para sempre. Enquanto que outros deliravam com um pai natal que eu sabia ser inexistente, eu lidava com a consciência de um corpo que funcionava mecanicamente, podendo desligar-se a qualquer momento. Eu posso morrer? Estranho. Todos o sabemos e estamos constantemente a esquecer-nos. Eu esqueço-me sistematicamente que um dia já não estou cá. Que o mundo continua. E eu não. Até que... lembro-me da minha finitude e, arrisco. Assim acabei de fazer! Venham daí as respostas! Positivas, por favor...

2 comentários:

  1. Ora positivas, positivas, deixa ver... gostava de não ter percebido tão cedo que todos morremos. Morremos mesmo. Os que nós mais amamos morrem. Mesmo. E acho que fazes muito bem, e que são muito raras as pessoas que passam das palavras à acção e o fazem mesmo, em lembrar e sentir a tua finitude, a de todos , e arriscar.

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