Prometo que não escrevo sobre ti. Ninguém quer saber de dores ou tristezas alheias. Querem sorrisos, fotografias bonitas, histórias e momentos memoráveis. Eu vou na onda. E engulo as lágrimas que vou deixando de chorar. Mas sinto-as.
São seis da manhã. Acordo com a luz, os sons da rua. Acordo com o cabelo molhado sob o meu pescoço. Penso em ti. Como gostavas disto. Como a última vez que aqui estive, foi contigo. Nesta casa. Não me lembrava disso. Lembrei-me quando cá cheguei. Quando olhei para o fogão e vi as tuas mãos a acenderem os fósforos. Quando vi a faca que admiraste cortar bem. Quando me lembrei que gostaste da água quente como está agora.
A maior parte das vezes, olho para o lado. Vejo a tua foto de relance. Ainda não consigo olhar apenas com saudade. Ainda me dói muito. Fujo como é meu hábito, quando se torna difícil. E depois a vida faz com que eu tenha de enfrentar de frente... Estás por todo lado. Virando a cabeça ou fechando os olhos, estás aqui. Nas mãos do Filipe. No jeito dele ser pai. No carro igual ao teu estacionado onde bebias café. No caminho para a praia. Nas garrafas de água que agora outros enchem. No pão que agora me levanto para comprar. Nos figos que antes me trazias. Em tudo, estás.
Esta semana conto dois anos que já não te temos. Parece pouco ou parece uma eternidade, não sei. Aconteceram muitas coisas. O mundo não parou e, no entanto, para mim, às vezes parece que sim.
São quase sete da manhã. Prometo que escrevo sobre ti. (Link)
Lindo e comovente. ... mas é muito difícil viver assim!
ResponderEliminarEstranhamente, habituamo-nos à dor e vive-se assim... às vezes refugiados nela... Obrigada, Carla! Beijinho
EliminarNão sei se falas sobre o teu pai...eu nao tenho o meu vai fazer 3 anos em novembro. e lembro que uma das coisas que me indignaram nos momentos seguintes ao perde-lo foi perceber que o mundo continuava, como é que era possivel?!?! e hoje estranhamente ao ver o transito fluir numa rotunda, foi isso que pensei, como é possivel o mundo continuar?
ResponderEliminarum grande beijinho.
Sim, falo do meu pai. Podemos ter 20, 40 ou 60 anos. Acho que nunca estamos preparados pra perder um pai ou uma mãe. Seremos sempre crianças... Beijinho grande, Morango!
EliminarUm beijinho, Ana. Não sei que dor é essa, mas hoje senti-a um bocadinho contigo.
ResponderEliminarObrigada, querida amiga! Saudades
EliminarLindo e com dor. Um beijinho
ResponderEliminarObrigada! Beijinho
EliminarLer emoções é bom eleva-nos para uma inteligência emocional diferente, mas escrever sobre emoções é bom e libertador. Pode continuar, vou continuar a ler, e a gostar.
ResponderEliminarbeijinhos
Muito obrigada! Beijinho
Eliminar