Acto
1: O que eu escrevi para dizer
Lembro-me
perfeitamente do dia em que soube que estava, pela primeira vez, grávida.
Andava há dias a obrigar o meu pai a percorrer o mundo para me comprar
maçarocas, quando o desejo satisfeito deu lugar à canja e dei por mim a comprar um teste
na farmácia local. Eram perto das 8 da manhã e acordei o Tiago com voz sumida.
“Olha, parece que estou grávida”. Disse-o quase em surdina, com um sentido de
obrigação similar ao pagamento de impostos. Enquanto ele dava pulos de alegria,
eu sentava-me em câmara lenta, numa extremidade da cama. Acho que fiquei lá uns
bons minutos, com os joelhos a tocar na cabeça, cujo peso era superior a três
andares do meu prédio. Só dizia “e agora?” enquanto ele se ria de forma
descontrolada. Soube, nesse momento, que seria uma mãe… como dizer… diferente.
A primeira consulta do pediatra foi sintomática. Olhou para nós e de forma
séria disse que era imperativo que descansássemos. Quando um bebé passa uma
noite inteira a chorar, obrigatoriamente, temos de fazer turnos. As olheiras
eram reais. A nossa filha era uma santa durante o dia e à noite sacava da
vuvuzela e dava largas ao seu modo de expressão natural: o berro. Passou um
mês, passaram dois meses, e já foram três e interiorizei que eu própria tinha
um problema. As minhas amigas transpiravam bebés. Falavam todo o dia de bebés.
E de como os seus eram a b s o l u t a m e n t e encantadores e calmos. Que
dormiam à noite como anjinhos e o dia era passado em profunda contemplação com
gracinhas e sorrisos afins. Eu? Ansiava pelo fim da minha licença de
maternidade como quem conta os dias para início das férias. Enquanto as minhas
colegas entregavam seus pequenos querubins à porta das creches, sob sentidas
lágrimas, eu passava do meu colo para outro com sincera alegria. Os sonos
foram-se regularizando, o meu cansaço diminuindo e comecei a vivenciar com
genuína alegria, a experiência da maternidade. Prometo que não vou falar aqui
do deslumbre que foi tirar os caroços formados, enfiando maminhas em alguidares
com água quente sob o olhar atento das visitas da casa. Bom, mas feliz e
contente, e absolutamente refeita dos sonos trocados da minha filha,
aventurei-me no segundo filho. Tinha passado pouco mais de ano e meio. “É
melhor irmos começando a tentar, pois é capaz de demorar”. Um mês. Bastou um
mês. Sentei-me novamente à beira da cama. Dois filhos, com um intervalo de dois
anos e alguns meses. Foi… como dizer… caótico. Sabem o que é estar a adormecer
um bebé, durante meia hora e depois pousá-lo em câmara lenta no berço? E
esperar o suspiro que nos dá sinal verde para nos sentarmos? E depois esperar
10 minutos para deitar as pernas? E mais cinco minutos para o tronco? Lembro-me
de tapar-me com o lençol e estar cheia de frio. O simples acto de mexer o
édredon, despertava a pequena cria e, no segundo a seguir, berrava
a mais velha que estava a paredes meias. Mudámos de casa. Um quarto
para cada um. E as coisas melhoraram. Mas eu… continuei a não ser aquela mãe.
Aquele tipo de mãe. Aquele que defende que o seu é o único filho que marcha
para o lado certo no pelotão. Lindos e maravilhosos, o topo do meu mundo. Inquestionável
mas, na medida certa. No meu entendimento. O da minha sanidade mental.
Conto-vos um episódio. Aquela miúda gira com aspecto de doce flor devia ter uns
cinco anos e introduziu o seguinte diálogo quando percorríamos o caminho para
casa, dentro do carro:
Mamã,
a Diana vai ao Pólo Norte
-A
sério? Uau, que bom!
Eu
também quero ir ao Pólo Norte.
-Sim,
claro filhota! Um dia vamos!
Não.
Vamos hoje. A Diana vai hoje e eu também quero ir.
-Ó
filha, o Pólo Norte é muito longe. A Diana de certeza que não vai agora para
lá.
(Sobe
o tom.) Vai sim e eu também quero ir.
-(respiração
pausada) Filha! Para se ir ao Pólo Norte têm de se fazer malas e andar de
avião. São muitas horas de avião. Um dia vamos. Agora vamos para casa.
(Choro)
Eu não quero ir para casa. Quero ir para o Pólo Norte! Vamos, vamos,
vamos….(vezes infinito)...
-(1,2,3,4,5,6,7,8,9,10)
Nós vamos para casa e vamos brincar um bocadinho. Eu prometo (!!!) que, um dia,
vamos ao Pólo Norte mas agora temos o papá à nossa espera, o teu irmão também
quer brincar… blabláblá….
(Gritos
ao mesmo tempo que dava pontapés na costas da minha cadeira do carro) EU QUERO
IR AO PÓLO NORTEEEEEEEEEEEEEEE!
-(Puxei
o travão de mão) Podes sair. Neste carro, não vais mais.
Silêncio.
Nunca mais ouvi falar do Pólo Norte.
Sou
terrorista? Sou. Prendam-me. Mas antes comprem um livro. Ou saiam da sala.
Acto
2: O que eu queria ter dito
Há
uns tempos fiz uma formação em teatro achando que seria uma experiência
interessante e que me daria ferramentas para ser mais assertiva e segurança
para quando tivesse de falar em público. Foi aterrorizador. Só passado algum
tempo é que percebi que contemplava não um mas, três espectáculos de
apresentação. Proibi a minha família de comparecer. Hoje estão aqui. Não que a
experiência teatral tenha representado algum progresso mas porque preciso com
todas as forças do meu ser, que comprem livros.
Feito
este preâmbulo, tenho algumas coisas a dizer.
O
nome do meu blog é tenebroso e altamente injusto. Eu sou uma pessoa do mais
doce que podem supor. Praticamente mel. Imaginem uma pequena flor, ao vento,
num prado. Incapaz de fazer mal a alguém. Sou eu. A candura num corpo de
mulher. Infelizmente, um pequeno pormenor da minha personalidade deu o mote à criação
de um espaço virtual que, em nada determina o resto da minha essência. Acontece
que sou fofinha… à minha maneira. Só porque os meus métodos de educação são um
pouquinho diferentes, deram-me a ideia deste nome e eu ingenuamente aceitei. É
que sempre preferi a maneira de educar que os meus pais me transmitiram a esta
agora que assisto. Cresci a engolir pratos de sopa sem pestanejar, a arrumar o
meu quarto, sem me pedirem por favor, a agradecer aquilo que me era dado e a
pedir aquilo que era justo ser-me atribuído. (sem contar com a Nancy que era
suposto ser Barbie, que ainda hoje não superei). Mas, em suma, sempre quis
transmitir aos meus filhos, alguns valores que considero que serem importantes.
Mesmo que tendo de lhes dizer não, algumas /muitas vezes.
Mas,
apesar da vertente teatral não ter resultado, acho que tenho uma veia artística
pois criei uma personagem. Uns exageros ali, umas piadas acolá… surgiu a tal
terrorista. A que fingia esquecer-se do nome deles- sob o olhar incrédulo
daqueles pequenos seres. E o blog foi uma coisa natural. De quem
sempre adorou ler histórias e descobriu, por acaso, que adorava, ainda mais,
contar as suas. Comecei por criar um espaço anónimo. Mas o espírito de diva foi
mais forte. Só faz sentido escrever para alguém, se alguém ler. E obriguei os
meus amigos a tornarem-se seguidores. E depois comecei a ter desconhecidos a
ler-me. A família entretanto descobriu. Mais tarde os colegas souberam e daí a
espantar-me com os números foi um pequeno passo.
Não
estou presa. Escrevo se me apetece. Não estou escrava das estatísticas. Estou
focada em escrever por prazer. Tal como tenho feito com o resto da minha vida.
Aproveitando o bom e ignorando o que me faz mal.
E
na linha da felicidade, encontrei estas amigas que partilham comigo este
prazer. Somos as três de Oeiras, trabalhamos na mesma organização e temos as
três, blogues. Somos completamente diferentes mas temos uma coisa em comum. Não
conseguimos estar caladas. Seja pela escrita e pela partilha de histórias, seja
pelos nossos felizes momentos em comum. Em que não conseguimos terminar frases
ou raciocínios. Onde se misturam e confundem os trejeitos e expressões. Onde
nos rimos até às lágrimas e onde surgiu esta ideia. De eternizar a nossa
história comum.
Espero
que gostem. Eu gosto muito. Porque gosto muito da Carla e da Marta. Não porque
são minhas companheiras de livro, mas porque são minhas companheiras de vida.
Dedico
as minhas singelas páginas àqueles que sempre viram em mim aquilo que eu
duvidei. À minha família. Aos meus amigos. (Se eu personalizar, choro. E não
posso, porque uma artista não se desmancha.)
À
minha agente, Eduarda, que sempre tratou dos meus assuntos e assegura o meu
bem-estar. Assegura mesmo!
Acto
3: O que toda a gente ouviu
Ah…
pois… estamos aqui todos, que bom! Obrigada por terem vindo (a corar). Espero
que comprem. (gaguejando…) Obrigada, mais uma vez.
À
Consideração Superior. Ai, não. Não é aqui. Este livro deu-me muito prazer
escrever, sendo que, na verdade já estava escrito. Ai, também não era isto. Eu
tenho mesmo de ser a primeira? Obrigada pelo vosso carinho. Comprem, por favor,
porque se não, não vou de férias. Um grande bem-haja.
Encomendas do livro para aqui: asmulheresnaosabemestarcaladas@gmail.com
Epah olha que eu ouvi partes do primeiro e partes do segundo, também partes do terceiro, vá! ;) Parabéns, muito sócesso!! :D
ResponderEliminarObrigada, my fashion adviser mái linda!
EliminarOuvi partes da primeira parte, outras partes da segunda, mas da terceira não estava lá parte nenhuma.
ResponderEliminarADOREI!
Adorei mesmo ouvir-te falar (falas bem p´ra caramba) e dar voz ao blogue.
Parabéns!
Eh pá! Aprecio-te!!! Adorei conhecer-te! Assim ao vivo, quero eu dizer!! Beijinhos
EliminarÉs fofinha, bem disposta e gira. Foi isso que vi.
ResponderEliminarÓ pá!!! Isso não vale!! Quem eras tu?!?! Obrigada! Beijinhos
Eliminarmagnífico. parabéns! vou querer um desses. autografado e com uma frase. :) beijo e abraço!
ResponderEliminarObrigada!!! Prometido!! Beijinhos
EliminarParabéns Ana! Muito Sucesso! :)
ResponderEliminarObrigada!!! Beijinhos
EliminarParabéns!! Muitos!! sou de longe, não estive presente, mas quem me dera ter estado! vou querer um livro:)
ResponderEliminarBeijos de uma desconhecida seguidora...
Obrigada!!! Eu envio um livro. Reserva, por favor, por aqui: asmulheresnaosabemestarcaladas@gmail.com
EliminarMuito obrigada! Beijinhos
Outro beijo de outra desconhecida seguidora... Muita sorte às três!!!!
ResponderEliminarBeijinhos!
Obrigada!!! Beijinhos
EliminarOh Ana, adorei! Sobretudo aquela da Nancy que deveria ser Barbie... Revi-me nessa cena e na atitude que tive para com a minha filha, obrigando-a a sofrer com a conviver com a minha embirração com o ar fútil da Barbie. Bom, e aquela do "à consideração superior"???? Muito bom, hilariante e profundo ao mesmo tempo! Só de gente inteligente e com um não sei quê de especial... Obrigado!
ResponderEliminarÀs vezes tem a capacidade de me deixar "sem capacidade de falar"... Obrigada por todo o carinho! Obrigada, mesmo!
EliminarGostei do livro, Parabéns...
ResponderEliminarJosé A. Teixeira Morais
Merda! Ainda bem que gostou, merda!!! :) obrigada! Bjs
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