quinta-feira, 8 de maio de 2014

Uma hora depois do lançamento ou... a minha espectacular personalidade em três actos

Acto 1: O que eu escrevi para dizer
Lembro-me perfeitamente do dia em que soube que estava, pela primeira vez, grávida. Andava há dias a obrigar o meu pai a percorrer o mundo para me comprar maçarocas, quando o desejo satisfeito deu lugar à canja e dei por mim a comprar um teste na farmácia local. Eram perto das 8 da manhã e acordei o Tiago com voz sumida. “Olha, parece que estou grávida”. Disse-o quase em surdina, com um sentido de obrigação similar ao pagamento de impostos. Enquanto ele dava pulos de alegria, eu sentava-me em câmara lenta, numa extremidade da cama. Acho que fiquei lá uns bons minutos, com os joelhos a tocar na cabeça, cujo peso era superior a três andares do meu prédio. Só dizia “e agora?” enquanto ele se ria de forma descontrolada. Soube, nesse momento, que seria uma mãe… como dizer… diferente. A primeira consulta do pediatra foi sintomática. Olhou para nós e de forma séria disse que era imperativo que descansássemos. Quando um bebé passa uma noite inteira a chorar, obrigatoriamente, temos de fazer turnos. As olheiras eram reais. A nossa filha era uma santa durante o dia e à noite sacava da vuvuzela e dava largas ao seu modo de expressão natural: o berro. Passou um mês, passaram dois meses, e já foram três e interiorizei que eu própria tinha um problema. As minhas amigas transpiravam bebés. Falavam todo o dia de bebés. E de como os seus eram a b s o l u t a m e n t e encantadores e calmos. Que dormiam à noite como anjinhos e o dia era passado em profunda contemplação com gracinhas e sorrisos afins. Eu? Ansiava pelo fim da minha licença de maternidade como quem conta os dias para início das férias. Enquanto as minhas colegas entregavam seus pequenos querubins à porta das creches, sob sentidas lágrimas, eu passava do meu colo para outro com sincera alegria. Os sonos foram-se regularizando, o meu cansaço diminuindo e comecei a vivenciar com genuína alegria, a experiência da maternidade. Prometo que não vou falar aqui do deslumbre que foi tirar os caroços formados, enfiando maminhas em alguidares com água quente sob o olhar atento das visitas da casa. Bom, mas feliz e contente, e absolutamente refeita dos sonos trocados da minha filha, aventurei-me no segundo filho. Tinha passado pouco mais de ano e meio. “É melhor irmos começando a tentar, pois é capaz de demorar”. Um mês. Bastou um mês. Sentei-me novamente à beira da cama. Dois filhos, com um intervalo de dois anos e alguns meses. Foi… como dizer… caótico. Sabem o que é estar a adormecer um bebé, durante meia hora e depois pousá-lo em câmara lenta no berço? E esperar o suspiro que nos dá sinal verde para nos sentarmos? E depois esperar 10 minutos para deitar as pernas? E mais cinco minutos para o tronco? Lembro-me de tapar-me com o lençol e estar cheia de frio. O simples acto de mexer o édredon, despertava a pequena cria e, no segundo a seguir, berrava a  mais velha que estava a paredes meias. Mudámos de casa. Um quarto para cada um. E as coisas melhoraram. Mas eu… continuei a não ser aquela mãe. Aquele tipo de mãe. Aquele que defende que o seu é o único filho que marcha para o lado certo no pelotão. Lindos e maravilhosos, o topo do meu mundo. Inquestionável mas, na medida certa. No meu entendimento. O da minha sanidade mental. Conto-vos um episódio. Aquela miúda gira com aspecto de doce flor devia ter uns cinco anos e introduziu o seguinte diálogo quando percorríamos o caminho para casa, dentro do carro:
Mamã, a Diana vai ao Pólo Norte
-A sério? Uau, que bom!
Eu também quero ir ao Pólo Norte.
-Sim, claro filhota! Um dia vamos!
Não. Vamos hoje. A Diana vai hoje e eu também quero ir.
-Ó filha, o Pólo Norte é muito longe. A Diana de certeza que não vai agora para lá.
(Sobe o tom.) Vai sim e eu também quero ir.
-(respiração pausada) Filha! Para se ir ao Pólo Norte têm de se fazer malas e andar de avião. São muitas horas de avião. Um dia vamos. Agora vamos para casa.
(Choro) Eu não quero ir para casa. Quero ir para o Pólo Norte! Vamos, vamos, vamos….(vezes infinito)...
-(1,2,3,4,5,6,7,8,9,10) Nós vamos para casa e vamos brincar um bocadinho. Eu prometo (!!!) que, um dia, vamos ao Pólo Norte mas agora temos o papá à nossa espera, o teu irmão também quer brincar… blabláblá….
(Gritos ao mesmo tempo que dava pontapés na costas da minha cadeira do carro) EU QUERO IR AO PÓLO NORTEEEEEEEEEEEEEEE!
-(Puxei o travão de mão) Podes sair. Neste carro, não vais mais.
Silêncio. Nunca mais ouvi falar do Pólo Norte.
Sou terrorista? Sou. Prendam-me. Mas antes comprem um livro. Ou saiam da sala.

Acto 2: O que eu queria ter dito
Há uns tempos fiz uma formação em teatro achando que seria uma experiência interessante e que me daria ferramentas para ser mais assertiva e segurança para quando tivesse de falar em público. Foi aterrorizador. Só passado algum tempo é que percebi que contemplava não um mas, três espectáculos de apresentação. Proibi a minha família de comparecer. Hoje estão aqui. Não que a experiência teatral tenha representado algum progresso mas porque preciso com todas as forças do meu ser, que comprem livros.
Feito este preâmbulo, tenho algumas coisas a dizer.
O nome do meu blog é tenebroso e altamente injusto. Eu sou uma pessoa do mais doce que podem supor. Praticamente mel. Imaginem uma pequena flor, ao vento, num prado. Incapaz de fazer mal a alguém. Sou eu. A candura num corpo de mulher. Infelizmente, um pequeno pormenor da minha personalidade deu o mote à criação de um espaço virtual que, em nada determina o resto da minha essência. Acontece que sou fofinha… à minha maneira. Só porque os meus métodos de educação são um pouquinho diferentes, deram-me a ideia deste nome e eu ingenuamente aceitei. É que sempre preferi a maneira de educar que os meus pais me transmitiram a esta agora que assisto. Cresci a engolir pratos de sopa sem pestanejar, a arrumar o meu quarto, sem me pedirem por favor, a agradecer aquilo que me era dado e a pedir aquilo que era justo ser-me atribuído. (sem contar com a Nancy que era suposto ser Barbie, que ainda hoje não superei). Mas, em suma, sempre quis transmitir aos meus filhos, alguns valores que considero que serem importantes. Mesmo que tendo de lhes dizer não, algumas /muitas vezes. 
Mas, apesar da vertente teatral não ter resultado, acho que tenho uma veia artística pois criei uma personagem. Uns exageros ali, umas piadas acolá… surgiu a tal terrorista. A que fingia esquecer-se do nome deles- sob o olhar incrédulo daqueles pequenos seres.  E o blog foi uma coisa natural. De quem sempre adorou ler histórias e descobriu, por acaso, que adorava, ainda mais, contar as suas. Comecei por criar um espaço anónimo. Mas o espírito de diva foi mais forte. Só faz sentido escrever para alguém, se alguém ler. E obriguei os meus amigos a tornarem-se seguidores. E depois comecei a ter desconhecidos a ler-me. A família entretanto descobriu. Mais tarde os colegas souberam e daí a espantar-me com os números foi um pequeno passo.
Não estou presa. Escrevo se me apetece. Não estou escrava das estatísticas. Estou focada em escrever por prazer. Tal como tenho feito com o resto da minha vida. Aproveitando o bom e ignorando o que me faz mal.
E na linha da felicidade, encontrei estas amigas que partilham comigo este prazer. Somos as três de Oeiras, trabalhamos na mesma organização e temos as três, blogues. Somos completamente diferentes mas temos uma coisa em comum. Não conseguimos estar caladas. Seja pela escrita e pela partilha de histórias, seja pelos nossos felizes momentos em comum. Em que não conseguimos terminar frases ou raciocínios. Onde se misturam e confundem os trejeitos e expressões. Onde nos rimos até às lágrimas e onde surgiu esta ideia. De eternizar a nossa história comum.
Espero que gostem. Eu gosto muito. Porque gosto muito da Carla e da Marta. Não porque são minhas companheiras de livro, mas porque são minhas companheiras de vida.
Dedico as minhas singelas páginas àqueles que sempre viram em mim aquilo que eu duvidei. À minha família. Aos meus amigos. (Se eu personalizar, choro. E não posso, porque uma artista não se desmancha.)
À minha agente, Eduarda, que sempre tratou dos meus assuntos e assegura o meu bem-estar. Assegura mesmo!

Acto 3: O que toda a gente ouviu
Ah… pois… estamos aqui todos, que bom! Obrigada por terem vindo (a corar). Espero que comprem. (gaguejando…) Obrigada, mais uma vez.

À Consideração Superior. Ai, não. Não é aqui. Este livro deu-me muito prazer escrever, sendo que, na verdade já estava escrito. Ai, também não era isto. Eu tenho mesmo de ser a primeira? Obrigada pelo vosso carinho. Comprem, por favor, porque se não, não vou de férias. Um grande bem-haja.





Encomendas do livro para aqui: asmulheresnaosabemestarcaladas@gmail.com

18 comentários:

  1. Epah olha que eu ouvi partes do primeiro e partes do segundo, também partes do terceiro, vá! ;) Parabéns, muito sócesso!! :D

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  2. Ouvi partes da primeira parte, outras partes da segunda, mas da terceira não estava lá parte nenhuma.
    ADOREI!
    Adorei mesmo ouvir-te falar (falas bem p´ra caramba) e dar voz ao blogue.
    Parabéns!

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    1. Eh pá! Aprecio-te!!! Adorei conhecer-te! Assim ao vivo, quero eu dizer!! Beijinhos

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  3. És fofinha, bem disposta e gira. Foi isso que vi.

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    1. Ó pá!!! Isso não vale!! Quem eras tu?!?! Obrigada! Beijinhos

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  4. magnífico. parabéns! vou querer um desses. autografado e com uma frase. :) beijo e abraço!

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  5. Parabéns!! Muitos!! sou de longe, não estive presente, mas quem me dera ter estado! vou querer um livro:)
    Beijos de uma desconhecida seguidora...

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    1. Obrigada!!! Eu envio um livro. Reserva, por favor, por aqui: asmulheresnaosabemestarcaladas@gmail.com
      Muito obrigada! Beijinhos

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  6. Outro beijo de outra desconhecida seguidora... Muita sorte às três!!!!
    Beijinhos!

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  7. Oh Ana, adorei! Sobretudo aquela da Nancy que deveria ser Barbie... Revi-me nessa cena e na atitude que tive para com a minha filha, obrigando-a a sofrer com a conviver com a minha embirração com o ar fútil da Barbie. Bom, e aquela do "à consideração superior"???? Muito bom, hilariante e profundo ao mesmo tempo! Só de gente inteligente e com um não sei quê de especial... Obrigado!

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    1. Às vezes tem a capacidade de me deixar "sem capacidade de falar"... Obrigada por todo o carinho! Obrigada, mesmo!

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  8. Gostei do livro, Parabéns...
    José A. Teixeira Morais

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    1. Merda! Ainda bem que gostou, merda!!! :) obrigada! Bjs

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