terça-feira, 27 de janeiro de 2015

27 de Janeiro de 2015

Para quando nos esquecermos [porque esquecemo-nos]: 

detestas cebola. Todos os dias perguntas-me se a sopa tem, se o arroz tem, se alguma coisa tem. E a cenoura segue o mesmo caminho. Está em tudo e não está em nada. Bebes chá como eu e já pedes que seja de pêssego e não de caramelo como o dela. Mergulhas a bolacha Maria e fechas os olhos. Devagar. Róis as unhas. Não tens vergonha de abraçar os teus peluches (mas já vês futebol como um homem de barba rija). Gostas de estar sozinho na casa de banho e a pasta de dentes ainda te pica. Segues o teu pai como um patinho e às vezes tenho ciúmes. Tu sabes. Já ficas menos vezes doente mas ainda hoje te libertas da febre e tosse de há poucos dias. Pedes-me num choro encenado para não ir à escola. É fácil falar-te do hospital e das vezes que as injeções de penicilina te magoam. És rápido a vestir-te. Falas à bebé mas já não dizes "não xei". Tenho pena. Dormes com as mãos debaixo da almofada sempre direitinho. Tranquilo. Ainda és o meu bebé. 
Tu... Implicas com as costuras das meias, collants e não vestes quaisquer cuecas. És dificil de convencer e já sabes que o vermelho não combina com cor-de-rosa. Pedes-me blusas que deixem o ombro à mostra mas ainda empurras o carrinho com um bebé fingido. Contas-me segredos mas já sei que não são todos. Escreves como eu. E dobras os papelinhos. O teu choro já é diferente. Também não gostas de cebola mas já não te escondo onde a ponho. Gostas de chamuças e alimentos picantes. Adoras desafiar. Gostas de correr comigo e eu gosto de te ter comigo. Queres sempre dormir com ele. Queixas-te muito. Que o defendemos, que o protegemos, que, que... E queres sempre dormir com ele. Riem-se, conversam e eu zango-me mas adoro. Olho para ti e vejo-me muito. Ris-te de forma parecida e és tímida como eu. Mas és tramada. Queres crescer e eu deixo-te mas não demais. Lembro-te que não largas o teu ursinho branco e que ainda te enrolas toda com mimo. Tens pequenas sardas e cabelo dourado. És muito bonita. 
27 de janeiro de 2105. Tu, filho, dormes em cima do meu braço enquanto escrevo. Estás agarrado a um peluche e sei que não te vou conseguir pegar. Vais ficar mais um bocadinho. Tu, filha, já percebeste que escrevo sobre ti. Não te deixei ler mas sei que o vais fazer. E vais dizer que eu devia ter escrito outra curiosidade qualquer. Digo que vou retificar mas não altero. 

Hoje estão assim, quase iguais. Apeteceu-me registar. 

                 

4 comentários: